quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Sobre Escritores

Do que vivem os escritores?

Pesquisa informal mostra que uma minoria se sustenta com a venda de livros, embora a maioria ganhe com atividades ligadas à escrita


SANTIAGO NAZARIAN – Especial para  o Jornal A FOLHA (14 de dezembro 2014)

Do que você vive? É a pergunta que todo autor ouve com frequência. Eu mesmo, nos malabarismos das contas do mês, sempre me pergunto como meus colegas conseguem se sustentar num país em que se lê tão pouco.
Como padrão internacional, para cada livro vendido o autor recebe em média 10% do preço de capa. O restante é dividido entre editora (que arca com custos de edição, publicação, promoção), distribuidora e livraria.
Considerando que a tiragem média de edição de literatura contemporânea no Brasil é de 3.000 exemplares, um autor com um livro a R$ 35 que, numa projeção otimista, consiga vender essa quantidade em dois anos ganharia R$ 5.250 por ano, menos de R$ 500 por mês.
Apesar disso, a multiplicação de eventos literários --a participação num debate paga em média R$ 2.000-- e alternativas de escrita abertas pela internet, pela TV e pelo cinema têm possibilitado a autores "estabelecidos" viver da escrita, embora não da venda de livros.
"Nunca houve tanto interesse em autores, mais do que em livros", diz Andrea del Fuego, 39, autora de "Os Malaquias", que em 2014 teve como principal fonte de renda as oficinas literárias.
Numa pesquisa informal com 50 autores de diversos perfis e estágios na carreira, obtive dados sintomáticos das formas de sobrevivência de escritores no Brasil. Os autores responderam a questões como "qual sua maior fonte de renda" e "o quanto a venda de livros representa da sua renda" --muitos sob a condição de que seus dados individuais não fossem divulgados.

Vendas
Só quatro dos 50 escritores, três deles no campo da literatura juvenil/de entretenimento, apontaram a venda de livros como principal componente de sua renda.
Tammy Luciano é uma autora desse perfil, que levanta a bandeira da literatura comercial; seu romance "Claro que Te Amo!" vendeu 10 mil cópias em 45 dias. "O jovem consome muito. O livro para esse público pode ser vendido em larga escala", diz.
No geral, as principais fontes de renda decorrem de atividades relacionadas à escrita, como dar aulas ou palestras, realizar oficinas literárias, traduzir livros, trabalhar com jornalismo e criar roteiros de cinema e televisão.
O gaúcho Paulo Scott, 48, lança em abril, pela Foz, seu próximo romance, "O Ano que Vivi de Literatura", no qual aborda essa realidade.
"É uma abordagem ficcional que acabou envolvendo o quadro escrever um livro' que, caso repercuta, levará o autor a ser convidado a eventos literários, indicado a premiações, adaptado para o cinema e o teatro", discorre.
Apenas 11 dos 50 entrevistados disseram ter profissão sem relação com atividade artística e, desses, dez apontaram essa outra ocupação como principal fonte de renda.
"Não ter de cumprir expediente faz diferença para quem precisa de tempo, ou ao menos administrar o tempo com mais liberdade," diz Michel Laub, 41, que teve como maior fonte de renda em 2014 as vendas de direitos de seus livros para o exterior.

Outros Tempos
O escritor que cumpre expediente como funcionário público --ocupação, em outros tempos, de nomes como Machado de Assis e Lima Barreto-- já não parece comum.
Apenas três dos consultados fazem ou fizeram parte desse grupo. É o caso de Marcos Peres, 30, autor de "O Evangelho Segundo Hitler" e técnico judiciário do Tribunal de Justiça do Paraná. "É burocrático, nada glamoroso, mas necessário", diz.
Dos autores pesquisados, a maioria considera a situação do autor brasileiro hoje melhor que há 20 anos.
The hard lesson - William Adolphe Bouguereau

"Naquele tempo não havia escritor profissional' (com as exceções de sempre), coisa comum hoje em dia. Muita gente vive da escrita hoje. O escritor não precisa mais se submeter a um emprego fora da sua área", diz Ivana Arruda Leite, 63, que estreou na literatura em 1997 e se dividiu entre a escrita e o funcionalismo público até 2013, quando se aposentou.
Alguns autores não souberam opinar. Só Ricardo Ramos Filho, 60, escritor e cronista, neto de Graciliano Ramos, apontou a situação hoje como pior: "Embora o governo compre mais hoje, no geral as edições diminuíram em volume. Houve época em que era comum imprimir 5.000 livros numa primeira edição. Proporcionalmente, estamos lendo menos."
Nesse cenário, discussões recentes como a envolvendo a lei do preço fixo para livros (que impossibilitaria grandes redes de dar descontos nos lançamentos, protegendo assim as pequenas livrarias) é uma questão mais para editoras e livreiros do que para os autores; a maioria dos pesquisados afirmou não ter ainda uma opinião formada.
"Ganhar dinheiro" com literatura não chega a ser ambição confessa nem de metade dos entrevistados --20 deles marcaram a alternativa, entre diversas opções listadas. Menos ainda "vender muito", com 15 respostas. 
As opções mais citadas foram "fazer boa literatura", "contar uma história" e "ser lido".
Bem ou mal, das mais diversas formas, os autores sobrevivem. A questão parece ser como reproduzir leitores. Que as vendas mais expressivas se deem principalmente para as novas gerações talvez seja motivo de esperança na existência de um mercado para a literatura nacional.

SANTIAGO NAZARIAN é escritor, autor de "Biofobia" (Record), entre outros, mas vive principalmente de tradução.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/201738-do-que-vivem-os-escritores.shtml

domingo, 14 de dezembro de 2014

Ilustrações - Um trabalho da imaginação

O escritor e ilustrador André Neves
Fala de personagens - formas e cores nas asas da imaginação



A revista "Printer", número 2, do mês de julho de 2014, traz uma entrevista com André Neves, premiado Escritor e Ilustrador.

Hoje a literatura infantil, não produz mais livros com desenhos que identifiquem ou descrevam cenários. As ilustrações não são mais mera decoração para as páginas. Segundo a matéria da Revista Printer - "... é preciso que exista uma coreografia perfeita entre palavras e ilustrações".


As características de uma boa ilustração

Perguntado sobre o tema, Andre Neves diz que uma boa ilustração é aquela que conta uma boa história com uma narrativa surpreendente e cativante. Plasticamente, segundo ele, não precisa ser necessariamente virtuosa, técnica, impressionante. 




Na entrevista André complementa dizendo que no caso dos livros para infância, é preciso de imaginação e afeto, para conquistar leitores de todos as idades. Até porque livros infantis também são para adultos. Nos últimos anos ele tem percebido que não cria mais obras para crianças, mas sim para a infância de todos nós leitores. 




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