quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nova Canção do Exílio

Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos

Ferreira Gullar

José Ribamar Ferreira (São Luís MA 1930), pseudônimo Ferreira Gullar. Poeta, dramaturgo, tradutor e crítico de artes plásticas. Filho do comerciante Newton Ferreira e de Alzira Ribeiro Goulart, estuda no Colégio São Luiz de Gonzaga. Aos 18 anos, trabalha como redator no Diário de São Luís, e um ano depois publica seu primeiro livro, Um Pouco Acima do Chão.  Em 1951, muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como jornalista nas revistas O Cruzeiro, Manchete e no Jornal do Brasil. Em 1954, publica o livro A Luta Corporal e conhece os poetas Augusto de Campos (1931- ), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927- ).  Gullar participa da fase inicial do movimento concretista, inclusive da Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SPRJ, em 1956. No ano seguinte, rompe com os poetas concretos após ler um artigo de Haroldo de Campos para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, intitulado "Da psicologia da composição à matemática da composição". Em resposta a esse texto, escreve outro artigo, "Poesia Concreta: experiência fenomenológica", publicado no mesmo jornal, em 1957. Gullar discorda do que considera um racionalismo excessivo da Poesia Concreta e defende uma maior subjetividade, o que resulta na criação do movimento neoconcreto, do qual participam artistas plásticos como Hélio Oiticica (1937 - 1980), Lygia Clark (1920 - 1988) e poetas como Reynaldo Jardim. O Manifesto Neoconcreto é publicado em 1959, no Jornal do Brasil, e nesse mesmo ano é realizada a I Exposição Neoconcreta. As idéias do movimento são expostas na Teoria do Não-Objeto, que Gullar também publica nesse ano. No início da década de 1960, escreve poemas de cordel, como João Boa Morte, Cabra Marcado pra Morrer, em que predomina uma linguagem referencial, de conteúdo político. Em 1962, é eleito presidente do Centro Popular de Cultura - CPC da União Nacional dos Estudantes (UNE) e dois anos depois filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Com a decretação AI-5, em 1968, o poeta é preso, juntamente com o jornalista Paulo Francis e os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Obrigado a exilar-se em 1971, reside em cidades como Paris, Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires, e envia artigos para o jornal O Pasquim. Escreve no exílio o seu livro mais conhecido, o Poema Sujo (1976). Em 1977, retorna ao Brasil, escreve para o teatro e a televisão. Três anos depois, é publicada uma edição de sua poesia completa, com o título de Toda Poesia (reeditada em 1999, com o acréscimo de obras recentes). Gullar é reconhecido também como crítico de artes plásticas, tendo publicado vários títulos nessa área, entre eles Sobre Arte (1983) e Etapas da Arte Contemporânea: do Cubismo à Arte Neoconcreta (1998).

Ferreira Gullar é considerado um dos maiores poetas brasileiros. Sua obra é marcada por diferentes fases de pesquisa estética, desde o experimentalismo e o lirismo até a poesia de cordel e a dicção coloquial. No livro A Luta Corporal, de 1954, por exemplo, encontramos composições intimistas de forte musicalidade, na série "Sete Poemas Portugueses", e ainda poemas em prosa, como a Carta ao Inventor da Roda, peças concisas e substantivas que se aproximam de João Cabral de Melo Neto, como Galo Galo e ainda textos experimentais que antecipam a Poesia Concreta, pela espacialização das linhas na página, fragmentação da palavra e criação de neologismos. Um bom exemplo da arquitetura poética desse livro é o poema O Anjo: "O anjo, contido / em pedra / e silêncio, / me esperava. // Olho-o, idêntico-o / tal se em profundo sigilo / de mim o procurasse desde o início. // Me ilumino! todo / o existido / fora apenas a preparação / deste encontro. // O anjo é grave / agora. / Começo a esperar a morte" . Esta peça revela várias características da poesia inicial de Gullar, como a síntese verbal, a geometria, a mescla de termos concretos e abstratos (como a pedra e o silêncio) e a expressão subjetiva. No último poema do volume, sem título, Gullar radicaliza a disposição espacial das linhas na página, buscando dar uma dimensão plástica ao texto, ao mesmo tempo em que pulveriza as palavras em sílabas e cria termos abstratos escritos em letras maiúsculas como "URR VERÕENS / ÔR / TUFUNS / LERR DESVÉSLEZ VÁRZENS".

Fonte:
http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/ferreira-gullar-poemas/

sábado, 1 de setembro de 2012

A Bailarina


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.
—–
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
—-
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
—-
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
—-
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
—-
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

Conclui seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com "distinção e louvor". Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal.

Dois anos depois, em 1919, publica seu primeiro livro de poesias, "Espectro". Seguiram-se "Nunca mais... e Poema dos Poemas", em 1923, e "Baladas para El-Rei, em 1925.
Em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, no bairro de Botafogo.
Ganha inúmeros prêmios entre eles: A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras, ao seu livro Viagem, em 1939, resultou de animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia.

1953 -  Agraciada com  o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Délhi. Em Délhi - Índia.

1962 - Recebe o Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

1963 - Ganha o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas de Israel", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.


Falece no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebe, ainda em 1964, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

Em 1965, após a sua morte e reconhecida e agraciada com o prêmio "Machado de Assis", pelo conjunto de sua obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras. O Governo do então Estado da Guanabara denomina Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo (SP), torna-se nome de rua no Jardim Japão.

Fontes:
http://meirelescecilia.blogspot.com.br/
http://elfikurten.blogspot.com.br/2011/02/cecilia-meireles-poetiza-educadora.html
Foto de balé com Alunos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil - Bernadéte Schatz Costa