“Sonhar, Escrever e Viver” busca na observação das pequenas coisas elementos essenciais para nossa existência.
sábado, 19 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
Entrevista com o Poeta José Fernandes
A Associação Confraria das Letras recebeu uma visita especial - José Fernandes, poeta e crítico, professor da Universidade Federal de Goiás - GO
Foi nesta segunda-feira (07/04/2014) durante o Lançamento do livro "Saganossa", antologia de 22 escritores associados a Confraria das Letras.
José Fernandes pertence ao restrito grupo de poetas que estuda poesia e, que dominam línguas como o latim e o grego, o que lhes permite chegar ao sentido mais profundo das palavras, do ser e, portanto, do poema. Poesia e ciberpoesia trata do desvelamento de poemas visuais, objeto sobre o qual o autor se debruça, há décadas.
Na passagem por Joinville o professor e poeta agraciou escritores com seu livro: Poesia e Ciberpoesia - Leitura de poemas de Antonio Miranda. Aproveitando a ilustre presença concedeu entrevista a David Gonçalves e Odenilde Nogueira Martins. Veja a conversa a seguir:
Como é o seu modo de produzir sua literatura? De quais livros seus você mais gosta?
JF - Quando faço crítica de ficção, observo como o narrador
estruturou a narrativa, como trabalhou a linguagem, os símbolos, a fim de
tornar o texto literário realmente belo, atraente para o leitor. Quando critico
o texto poético, verifico todo o trabalho efetuado pelo poeta para instaurar o
poético, que se esconde na forma do texto e, sobretudo, tratando-se de poesia
moderna, em uma linguagem essencialmente imagética, responsável pela
ambiguidade do discurso, porque não existe poesia, se a linguagem for
denotativa. Quando escrevo poesia,
procuro, exatamente, seguir os passos que percorro na leitura dos poemas dos
outros poetas em relação à linguagem. Por isso, uso muitas imagens, pois tento
esconder, nelas, pessoas que ironizo ou satirizo, a fim de que o texto e a
crítico se universalize.
Em que situação se encontra a literatura brasileira?
JF - Para lhe dizer a verdade, a literatura me assusta, porque, no
mesmo momento em que se prega a sua morte, em que se a julga morrente, surgem
escritores novos, raros, mas que lhe imprimem um novo vigor, mediante a criação
de obras realmente fabulosas. A poesia, por exemplo, viceja em Alto Araguaia,
com um estudante de Letras, chamado Paulo David, que apresenta todas as qualidades
do poético, e que transforma a linguagem em arte. Evidentemente que ele está
muito bem assessorado por seus professores, mormente Isaac Ramos, também
excelente poeta.
Quem, no Brasil, está produzindo boa literatura?
JF - Há uma geração de escritores que se encontra entre os 70 e os
100 anos que continua produzindo excelente literatura, como Manoel de Barros,
Gilberto Mendonça Teles e Antonio Miranda. Há uma outra, entre os 30 e 70, nas
várias regiões do país, que nos deixa muito tranquilos com relação ao futuro da
arte literária. Entre eles, destacam-se Isaac Ramos e Marta Cocco, em Mato
Grosso; Rosidelma Fraga, no Acre; David Gonçalves, em Santa Cartarina; Sinésio
di Oliveira, em Goiás; Rubenio Marcelo, no Mato Grosso do Sul; Carla Andrade,
em Brasília; Jameson Buarque, no Pernambuco; Avelino de Araújo, no Rio Grande
do Norte, para ficar fora do eixo Rio-São Paulo.
Quais sao os autores da literatura catarinense que você recomendaria?
JF - Por sua força literária, penso em David Gonçalves, Amilcar
Neves e Alcides Buss, entre os mais novos; Guido Wilmar Sassi, Tito Carvalho,
Flávio Cardoso, Holdemar Menezes, Silveira de Souza, Péricles Prade, Salim
Miguel e o consagrado simbolista Cruz e Sousa.
Você é membro da Academia Goiana de Letras. Qual a importância das Academias? Elas estão cumprindo o seu papel?
JF - A função das Academias de Letras é cuidar e preservar a Língua
Portuguesa, além de congregar, pelo menos em tese, os melhores nomes da
literatura de determinado estado da federação. Mas, grosso modo, não cumpre a
sua função, porque a maioria senta-se sobre o nome que conquistou e não produz
mais nada. Em decorrência, não dispõe de poder para se impor política e
literariamente no seu meio, ao ponto de algumas dessas academias não terem significado
algum. A mais eficiente que conheço é a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras,
que, além de exercer um papel literário proeminente, ainda exercita uma função
política no Estado de Mato Grosso do Sul, como poucas, muito poucas, o fazem.
O que significa a literatura para sua vida? É hobby? É compromisso?
JF - A literatura, para mim, significa tudo, porque, com ela,
consegui um status econômico e social que jamais conseguiria sem ela. Por isso,
faço literatura com o compromisso de bem exercer o papel de crítico literário,
realmente procurando mostrar aquele lado invisível que marca as grandes obras
ao leitor que, infelizmente, está cada vez mais desprovidos das qualidades de
bons leitores. Como poeta, procuro, dentro de minhas limitações, porque não me
julgo bom poeta - sou mais crítico que poeta - trabalhar o poema para que ele
se aproxime do sublime, ou seja, do superlativo do belo. Assim vista e sentida,
a literatura constitui a razão primeira de minha vida como homem, à medida que
ela me permitiu conquistar o humano, naquele sentido de essência, de substância
do ser.
Da esquerda para direita Odenilde Nogueira Martins, David Gonçalves e José Fernandes |
Assista um vídeo com José Fernandes:
Entrevista concedida para David Gonçalves e Odenilde Nogueira Martins
http://books.google.com.br/books/about/Poesia_e_ciberpoesia.html?id=1dC2lgEACAAJ&redir_esc=y
Fotos: Bernadéte Costa
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