quinta-feira, 16 de agosto de 2012

As palavras e o poeta Alcides Buss

AS PALAVRAS E O POETA
Não, não escrevo.
As palavras me escrevem
e nisso são donas de mim.

É preciso tê-las, por certo.
E muitas! Então, de dia
e de noite, as procuro.

Estão por aí, supérfluas,
profundas; ociosas,
mutantes; pungentes, amáveis.

Se as quero, me querem.
Compõem meu desejo
se nele as fustigo.

Se aqui ou distante,
dormindo ou correndo,
vão sempre comigo.

Pressentem o que sinto
ou são o que penso.
Calado, me acodem.

Melhor, me levam em seus ombros
e deixam que eu desça
ao porão de seus lábios.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Muro Invisível de Thiago de Mello


O muro invisível

É inútil minhas palavras
ultrapassarem fronteiras,
se eu ainda permaneço.
Muro invisível existe
entre o dizer e o fazer
e, talvez, à sua sombra
apenas envelheçamos.
Jamais saberá a relva
Quando o orvalho descerá,
e é dádiva da terra,
O que amadurece os frutos.
Sou qual ávida planície
Esperando vir dos céus
a chuva fertilizante.
Entrementes, vejo flores,
sem saber se as colherei.


Thiago de Mello nasceu na cidade de Barreirinha, no coração do Amazonas, no dia 30 de março de 1926. Em Manaus, capital do Estado, fez seus primeiros estudos. Mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde cursou a Faculdade de Medicina até o quarto ano. Acabou optando por deixar os estudos médicos e dedicou-se à poesia. Conhecido internacionalmente por sua luta em prol dos direitos humanos, pela ecologia e pela paz mundial, o autor foi perseguido pela ditadura militar implantada no Brasil em 1964. Foi obrigado a deixar sua terra, tendo se exilado no Chile, até a queda de Salvador Allende. Seus trabalhos foram publicados no Chile, Portugal, Uruguai, Estados Unidos da América, Argentina, Alemanha, Cuba, França e outros mais. Traduziu para o português obras de Pablo Neruda, T. S. Elliot, Ernesto Cardenal, César Vallejo, Nicolas Guillén e Eliseo Diego.

Fontes acessadas em 01 de agosto de 2012: