Tiragens
iniciais gigantescas de livros indicam tendências de mercado e estratégia de vendas
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Foto do Jornal A Notícia - Joinville - SC |
Mais do que
best-sellers, buscam-se agora os títulos capazes de romper a barreira de 1
milhão de exemplares vendidos
O lançamento de 1889,
livro de Laurentino Gomes que sai este mês com tiragem inicial gigantesca para
um volume sobre história do Brasil, ilustra o sistema de grandes apostas que
move o mercado editorial brasileiro. Mais do que best-sellers, buscam-se agora
os chamados mega-sellers – títulos capazes de romper a barreira de 1 milhão de
exemplares vendidos.
Esse time seleto de candidatos a
fenômeno comercial, integrado por um crescente número de autores nacionais, foi
crucial para inflar as vendas de obras de caráter geral no ano passado e evitar
a mesma queda sofrida pelos setores didático e religioso. Por esse motivo, são
alvo de uma intensa disputa entre editoras em busca de um final feliz para seus
lançamentos.
:: Saiba quais são os livros com maior tiragem no Brasil
Laurentino é um exemplo do esforço
das editoras para atrair possíveis campeões de popularidade. O primeiro livro
da série sobre história do Brasil, 1808, saiu pela Planeta, e o
segundo, 1822, pela Nova Fronteira: juntos, já venderam mais de 1
milhão de exemplares. Sua nova obra será publicada pela Globo Livros, com
tiragem inicial de 200 mil exemplares – a média nacional é 4,5 mil. Assim, é
possível medir a expectativa da editora em relação ao título.
Como resultado da
disputa por escritores bons de venda, o valor pago em adiantamento para firmar
contrato com autores desse calibre disparou.
– Há cinco anos,
pagava-se cerca de US$ 5 mil a um escritor de ponta. Hoje, chega a mais de US$
50 mil – revela a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Karine Pansa.
Laurentino se junta no olimpo
comercial a outros brasileiros como Padre Marcelo – que fez milagre ao vender
mais de 8 milhões de exemplares de Ágape e largar com 500 mil
de Kairós –, e Cristiane Cardoso, filha do bispo Edir Macedo,
também ele integrante dessa elite com a biografia Nada a Perder. A
nova geração nacional de mega-sellers, muitos deles ligados à fé, divide espaço
com estrangeiros de apelo mundano como E.L.James (da série 50 Tons) e
Dan Brown (de Inferno). Esse grupo sustenta o crescimento do
filão literário a que pertence. Como mostra a pesquisa Produção e Vendas do
Setor Editorial Brasileiro, o segmento geral vendeu 4,2% mais livros em 2012 do
que em 2011, enquanto o didático caiu 10%, e o religioso,18% (setor que não
inclui fenômenos como Padre Marcelo por escolha de classificação das editoras).
– Os
megalançamentos, como esse do Laurentino, é que estão puxando o crescimento –
analisa Karine.
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Foto da página do Jornal Zero Hora - ver link abaixo |
O consultor
editorial Carlo Carrenho afirma que as tiragens iniciais gigantescas não
refletem apenas uma expectativa, mas também uma estratégia de mercado. É como
uma profecia que se autocumpre: as livrarias interpretam a impressão volumosa
como garantia de que a editora vai investir pesado para divulgar e distribuir o
livro. Assim, sentem-se seguras para comprar mais exemplares e vendem mais para
o público.
– A primeira coisa
que as livrarias perguntam é qual a tiragem inicial. Usam a informação para
avaliar o tamanho da aposta naquele título – explica Carrenho, destacando que o
estratagema não elimina o risco:
– O mercado de
livros se parece realmente com um jogo. Nunca dá para garantir que vai vender
bem.
As apostas, porém,
estão em alta no Brasil.
Artigo
de Marcelo Gonzatto
Fonte: