O mês de outubro registra duas datas comemorativas:
04 de outubro - Dia Internacional do Poeta
20 de outubro - Dia Nacional do Poeta
Aos poetas estrangeiros nossa homenagem no post do poema de
Fernando Pessoa:
A vida é uma ilusão
E o nosso vago embrião
Da existência fugaz e indefinida
Tem por seus só a dor
E o lívido pavor
E a escura noite fria e vã da vida
E o desassossego imortal
De quem por ilusão conhece o bem e o mal
[23-7-1911]
In Poesia 1902-1917 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana MariaFreitas,
Madalena Dine, 2005
Cópia
do original dactiloscrito por Fernando Pessoa, gentilmente cedido pelo
Professor José Barreto.
[NOTA BIOGRÁFICA] DE 30
DE MARÇO DE 1935
“Nome completo:
Fernando António Nogueira Pessoa.
“Idade e naturalidade:
Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos
(hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.
“Filiação: Filho
legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira.
Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das
campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís
António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do
Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e
judeus.
“Estado: Solteiro.
“Profissão: A
designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente
estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui
profissão, mas vocação.
“Morada: Rua Coelho da
Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).
“Funções sociais que tem desempenhado:
Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.
“Obras que tem publicado:
A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações
ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte:
«35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em
inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de
Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado
em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser
considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar
muito.
“Educação: Em virtude
de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias,
com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali
educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do
Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.
“Ideologia Política:
Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação
organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia
completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre
regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo
inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente
anti-reaccionário.
“Posição religiosa:
Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas,
e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão
implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a
Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da
Maçonaria.
“Posição iniciática:
Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores
da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.
“Posição patriótica:
Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração
católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a
substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez
espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade;
nada contra a Nação».
“Posição social:
Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.
“Resumo de estas últimas considerações:
Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e
combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o
Fanatismo e a Tirania”.
Lisboa,
30 de Março de 1935
Fernando
Pessoa
In Escritos Autobiográficos, Automáticos
e de Reflexão Pessoal, ed.
Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203 - 206.